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quinta-feira, 5 de junho de 2008

Tai Ana



Tai Ana é a filha caçula de uma família de 4 irmãos, deveria ser a mais mimada, a mais querida, a criancinha da casa, mas não era. Seu pai vivia num mundo isolado, ele a bebida e o trabalho, o carinho que ele tinha era quase todo dedicado à única neta, filha de seu irmão mais velho. Falando nele... também não dava a mínima para Tai, nem para a mulher, gostava mesmo dos filhos e da amante com a qual muitos anos depois acabou casando. A mãe era claramente apaixonada pelo filho mais novo, fazia tudo por ele, o cara na faculdade e mamãe colocando pasta na escova de dentes dele pode??? Tai não se conformava com isso, fazia de tudo para agradar e nunca era notada, esse irmão mais novo então, nem bom dia dava pra ela em casa.
Eu gostava dela e assitia aquilo tudo atônita, na minha família irmãos se amam não se desprezam... mas ali era assim...
Um dia reparei que estavam todos se preparando pra alguma coisa, parecia uma festa tinha bebida, comida e charutos... charutos??? pra que charutos??? perguntei a mãe de Tai pra que era aquilo tudo ela me disse: "porque hoje a Laura vem" quem seria Laura? eu poderia ficar para a festa? estavam todos meio misteriosos e eu não estava entendendo nada.
Na hora determinada entramos todos no quarto de Tai, nada de campainha onde estaria a tal Laura? Todos em silêncio, apagaram as luzes, acenderam velas e em poucos minutos Tai entra no quarto, vestida com um vestido vermelho brilhante, maquiagem carregada, perfume, muitos colares, pulseiras e brincos enormes! Todos se curvaram e a mãe disse boa noite Laura! com um respeito e um entusiasmo absurdo! A garota, com a vóz alterada, falando num dialeto esquisito, começou a benzer a família, dava conselhos a todos, alertava dos perigos da vida, falava muito! e era ouvida!! finalmente!! falou comigo também disse que sabia do passado, presente e futuro de todos, se apresentou a mim como Laura uma pomba-gira que era incorporada por Tai e disse que vinha todo mês abençoar a família, benzer e dar conselhos, além de receber as oferendas e deixar o pedido feito para a próxima visita, e pedia mesmo! comida, bebida, roupas, badulaques, cigarro e os tais charutos. Sempre respeitei muito todas as religiões, nunca tive medo nem repulsa por nada, ao contrário sempre fui curiosa, ja tinha visitado terreiros e casas espíritas desse tipo, mas eram lugares apropriados pra isso, o que eu estava assistindo ali, era um teatro muuuito bem elaborado por Tai.
Tão bom que ela engambelava a família toda, como Laura ela conseguia tudo que mais queria, carinho, respeito, atenção e até um certo medo da parte deles. Coisa de gênio! Ela criou um jeito de ser respeitada, um jeito de ser vista. Aquilo me fez admira-la mais, não pela tal Laura mas pela criatividade dela pra resolver seu problema de rejeição, e digo mais, deveria ter feito curso de teatro a bichinha era boa na interpretação! Alguns anos depois disso Tai conheceu um cara muito legal, que a tratava como uma princesa, a amava de verdade e supria nela tudo que ela não tinha em casa. Se casaram e se não me engano tiveram 3 filhos, nunca mais Laura precisou aparecer...

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